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A evolução que se faz necessária no Pensamento Estratégico
- 11 de julho de 2016
- Posted by: Luiz Bersou
- Category: Gestão de Negócios

Duas histórias para colocar a questão
Vivi época em que a síntese do Planejamento Estratégico era decidir sobre investir, desinvestir ou não fazer nada. Tese central de nossas reuniões em Paris na década dos anos 70. Dessa mesma época lembro de trabalhos lá realizados onde todo o problema sobre os investimentos em siderurgia era decidir se a taxa de crescimento do mercado considerado em 10 anos seria de 1% aa ou 1,5% aa.
Essa referencia representa uma visão dos cenários daquela época, dos regimes nos quais funcionavam, o mundo da monotonia e da baixa velocidade de novos acontecimentos.
Lembro também de quando grandes fabricantes americanos de pneus convencionais “bias” perceberam a ameaça à sua grande reserva de mercado que eram os fabricantes europeus de pneus radiais. Como resposta inventaram o chamado pneu “bias belted”.
Lembro da proposta de um grande grupo europeu de fabricar tecidos especiais para esse tipo de pneu. Sendo consultado a respeito escrevi na capa do relatório, que o pneu “bias belted” tinha nascido morto e que o investimento seria perdido. Lembro que o autor, figura importante da organização, que tinha percorrido o mundo para elaborar o relatório, ficou surpreso e ofendido, gerando grandes problemas e pressões.
O pneu em questão morreu em pouco tempo. A minha análise era muito simples, pura termodinâmica, do ponto de vista de energia consumida na fabricação e energia transferida no veículo, o pneu radial era muito, muito superior. Tecnologia tomando o seu lugar.
Essa referencia representa uma primeira visão, ainda no fim dos anos 70, de uma das rupturas nos sistemas de reserva de mercado e de avanços tecnológicos. O mercado estava sendo dirigido não pelo potencial de consumo mas pelo seu direcionamento a novas tecnologias.
O Vetor Velocidade de resposta consistente
De um histórico em que o “Planejamento Estratégico” era feito em relação a mercados monótonos, o mundo evoluiu no tempo para uma situação em que o mercado entra continuamente em sucessivos regimes complexos em grande velocidade.
Daquilo que eram os rituais de Planejamento Estratégico, tivemos que evoluir para uma situação em que o “Planejamento Estratégico” foi sendo substituído por uma estado de “Vigília Estratégica” e nós introduzimos ainda no início da década dos anos 80 as expressões “Reflexão Estratégica” e “Pensamento Estratégico” em substituição à expressão “Planejamento Estratégico”, pois esse planejamento não estava sendo nada estratégico, apenas operacional.
A síntese dessa evolução está em uma antiga expressão do Professor Carlos Magno, ainda dos anos 60, vinte anos antes, que dizia: Primeiro pensa e depois faz. Pensa com qualidade!
Modelos de Análise
Pensar com qualidade nos trás Nicholas Nassim Taleb que escreveu a “A lógica do Cisne Negro – o impacto do altamente improvável”. Ele trouxe para o centro das atenções o conceito de “Modelos de Análise”, pois o altamente improvável começou a se multiplicar a grande velocidade e novos tipos de análise de risco se tornaram obrigatórios.
De um momento histórico em que o “Modelo de Análise” consistia em observar o passado e com base nele predizer o futuro, chegamos a uma situação em que o passado tinha pouca valia, pois a complexidade nos colocava pela frente um mar de pontos de interrogação, muitos sem nenhuma resposta!
A demanda por “Modelos de Análise” rapidamente nos trouxe o desequilíbrio inerente aos grandes sistemas de Big Data, concentrados em produtos e demandas e suas evoluções.
Ficou muito bem comprovado que o “Modelo de Análise” bem resolvido é sempre aquele que resolve a carência de uma enorme sensibilidade humana e da intuição, capacidade de alguns grandes players. Sempre foram poucos e isso é uma das razões da atual concentração de capital no mundo.
Konosuke Matsushita – O senhor dos tempos
A grande contribuição que esse importante empresário nos trouxe foi nos apontar que o nosso verdadeiro cliente, aquele que cabe tratar bem e fidelizar é antes de tudo a sociedade. Ficou então evidente a necessidade da integração profunda da empresa com a sociedade.
Entender que a sociedade é a soma do cliente e a empresa em conjunto, ajudou a responder à carência de uma enorme sensibilidade humana e intuição de grandes players. Aquilo que vinha sendo interpretado como números de mercado, passou a ser interpretado como fenômenos sociológicos, temas a serem abordados nos campos da Filosofia, da Antropologia e dos Fenômenos Sociais.
Nesse contexto, trabalhos como os de “Gustave Le Bon – Psychologie des Foules”, “Bert Hellinger e Gabriele ten Hövel – Constelações familiares- o reconhecimento das ordens do amor”, “John Passmore – A perfectibilidade do Homem” e tudo que está sendo construído nos temas da Semiótica passam a fazer parte dos modernos “Modelos de Análise”.
As expressões ruptura e disrupção passam também a fazer parte do vocabulário dos temas estratégicos, e percebemos então como a liberdade de pensar, o ser livre pensante tem o poder de transformar o mundo.
É interessante que a apostila No 1 do nosso acervo de conhecimento é datada em sua primeira versão no ano de 1948 e tem como título a expressão “O pensamento estratégico e o ser livre pensante”. Estava na frente mais de 30 anos.
Resumo do pensamento até esse momento
O “Vetor Velocidade de resposta consistente” precisa ser considerado no Pensamento Estratégico como elemento fundamental de sua elaboração. Modelos de Análise e a qualidade do pensar se colocam como eixo central de todas as questões. O cliente será interpretado quando soubermos interpretar a evolução e forma de ser e viver da sociedade e da integração da empresa nessa mesma sociedade.
Entra aqui uma provocação importante: a sociedade quer se livrar das amarras do Estado e tudo o que vier para ajudar nessa ruptura será bem vindo. Sairemos então algum dia do conceito de Estado de Direito dominando e prejudicando o mercado, para o conceito de Estado de Justiça, que é o que mais falta no Brasil. Essa revolução tem nos aplicativos tipo Uber uma primeira sinalização.
Se tudo varia, quais são as bases do novo Pensamento Estratégico?
Como as bases sobre as quais temos que apoiar o “Pensamento Estratégico” mudam a grande velocidade, como reagir a essa situação? “Ketan J. Patel, – O mestre da estratégia, poder, propósitos e princípios” nos trás uma primeira resposta que tivemos a oportunidade de praticar muitas vezes.
Aquilo que vinha sendo pensado como “Pensamento Estratégico” ligado a mercados, produtos e serviços, dada a importância do impacto do altamente improvável muda de foco.
Para conviver e sobreviver nesse ambiente a empresa precisa construir “Poder”. Poder de realização. Entram os fundamentos da Escalada Estratégica, onde “Poder” é resultado da formulação de objetivos, princípios e fundamentos da organização e da capacidade de comunicação e mobilização. “Poder” vem da sincronia mental de atores, fundamentada em princípios e fundamentos que a empresa desenvolveu e deve praticar e sua atitude perante os desafios que encontram pela frente.
Colocando “Poder” como o grande desafio do “Pensamento Estratégico” e também a sua grande realização, Ketan nos trás frentes de trabalho que precisam ser desenvolvidas, e onde tudo termina no “Vetor Velocidade de resposta consistente”, que é o grande desafio dos tempos atuais.
As frentes a desenvolver para a construção do Poder de Ketan e Paulo Guedes
Paulo Guedes nos trouxe uma grande contribuição para o entendimento do que está acontecendo no mundo atual, quando posicionou que o êxito do capitalismo não está no capital, mas na capacidade de sincronia, convergência e protagonismo de players com mentalidade empreendedora.
Para essa gente a capacidade de serem “Seres Livre Pensantes”, almas que buscam a liberdade e o empreendedorismo, não controlado pela mão de ferro do Estado, faz toda a diferença.
Essa abordagem coloca o foco central da realização do “Poder” no ser humano, na sua capacidade de entendimento do “Modelo de Análise” em vigor que orienta o todo, do estado de consciência e sincronia com os princípios e fundamentos da organização e a atitude de assumir desafios como modo de vida.
A Síntese
A partir da abordagem de Ketan temos então uma Escalada Estratégica onde os grandes desafios do Pensamento Estratégico estão nos temas:
- Estabelecer os melhores Modelos de Análise possíveis.
- Que o entendimento da evolução da sociedade e integração da empresa nessa sociedade será caminho de menor risco para os investimentos.
- Entender que o grande desafio está na velocidade de realização pois os cenários não esperam os lentos.
- Que o novo objetivo do moderno Pensamento Estratégico é a construção da condição de “Poder”. Poder de realização. Essa condição de “Poder” leva a empresa à condição de Capitalização e reinvestimento, o que é fundamental em um país como o Brasil onde capital é segundo a Teoria das Restrições de Eliyahu Goldratt, o grande gargalo.
- Que a base desse “Poder” está na fixação dos Objetivos, Princípios e Fundamentos que vão gerar a capacidade de trabalho sincronizado e inteligente das equipes.
- Que a construção do Humano passa a ser o grande objetivo das organizações pois os “Modelos de Comando e Resposta ao Comando e Controle” ficaram inúteis, não suportam o “Vetor Velocidade de resposta”, e os organogramas deram então lugar no mundo complexo às “Mesas de Sincronia”.
Que o fundamento das “Mesas de Sincronia” está na capacidade de auto gestão, a partir dos Fundamentos e Princípios seguidos e sincronizados por cada um dos seus participantes.